sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A quem interessaria uma revista sobre AI?

Simônica Capistrano e Jan Penalva
A função de assessor de imprensa passou a existir na virada do século XIX para o XX, no processo de consolidação do capitalismo. Pode-se dizer que as relações entre as organizações e a imprensa foram herdadas de um jornalista americano chamado Ivy Lee. Em 1906 ele inventou a atividade especializada que hoje se chama assessoria de imprensa. Com um bem-sucedido projeto profissional de relações com a imprensa, a serviço de um cliente poderoso chamado William Henry Vanderbilt (criticado e cobrado por causa da péssima qualidade dos serviços que suas ferrovias prestavam nos Estados Unidos), Lee pôde aprimorar na prática seus conceitos sobre imagem institucional e divulgação. Ele viabilizou a aceitação pública de seus assessorados por intermédio do trabalho de relacionamento com a mídia.
Não foi uma tarefa fácil, já que William Henry era famoso pela frase “o público que se dane”. Frase esta que entrou para a história como péssimo exemplo de como as empresas lidavam com os interesses públicos e com seus usuários consumidores. Mas foi a partir deste cenário que Lee começou a enxergar um campo propício para que as organizações passassem a demandar serviços profissionais em busca de melhor exposição.
As informações repassadas por Lee chegavam ao jornalista com o mesmo interesse pela apuração, rigor de texto e credibilidade da notícia. Por isso, em muitas ocasiões, tornaram-se alvo de interesse dos jornais, que passaram a utilizá-las para elaborar matérias.
Com o avanço da imprensa sindical e da exigência por transparência nas atividades relacionadas ao bem comum e ao bem-estar da população, a comunicação empresarial surge como uma tentativa de dar uma resposta, uma satisfação a essas cobranças. Era uma excelente oportunidade de negócio para os profissionais devidamente “antenados”, e foi isso o que fez o norte-americano Ivy Lee.
O ex-jornalista de economia dos jornais The New York Times, New York Journal e New York World, passou a oferecer ao mercado serviços inéditos como informações empresariais que as próprias empresas autorizavam a ser apuradas e divulgadas, com o objetivo de atingir a opinião pública.
Foi a partir dessa estratégia elaborada por Lee que o mercado de assessorias de imprensa se expandiu por todo o mundo. Depois de passarem, no Brasil, por dois grandes momentos de crescimento na década de 1990 (abertura de mercado e privatizações) as organizações assimilaram técnicas e conhecimentos que permitiram que evoluíssem para grandes agências de comunicação ou de relações públicas, consolidando-se devido a parcerias com grupos internacionais.
De acordo com Jorge Duarte, no livro Assessoria de imprensa e relacionamento com a mídia – teoria e técnica, é possível estabelecer certo consenso de que pelo menos 50% dos jornalistas brasileiros hoje atuam em áreas relacionadas à comunicação organizacional , particularmente, assessoria de imprensa (AI) – e o mercado ainda está em expansão. Essa situação tem sua origem na necessidade e no interesse de profissionais e instituições de todos os tipos em estabelecer sistemas de relacionamento com as redações para se comunicarem com a sociedade. Também reflete a capacidade que as AIs passaram a ter de influenciar a agenda dos meios de comunicação e a dependência, pelas redações, das informações fornecidas por essa rede de divulgação jornalística.
A atividade de AIs, embora praticamente se configure como uma nova profissão, ainda apresenta dificuldades de caracterização no mercado brasileiro. Ainda há bastante preconceito por parte dos jornalistas de redação (que identificam na prática uma atividade menor). No entanto, boa parte destes, diante da crise do mercado publicitário e conseqüente redução do emprego nos veículos da grande imprensa, continua encontrando trabalho e possibilidade de crescer na profissão dentro das assessorias.
A partir desta perspectiva é que se justifica a viabilidade de se publicar uma revista com foco em assessorias de imprensa em Salvador que atenda aos jornalistas, assessores de imprensa e empresas, informando sobre o que acontece na área, a rotatividade de profissionais nas assessorias e nos veículos, aquisições e perdas de clientes, casos de sucesso, dicas para gerenciamento de crise e divulgação de produtos e serviços. Vale ressaltar que, atualmente, em Salvador, estas informações são trocadas entre os profissionais de maneira informal, durante eventos, encontros e bate-papos. O periódico poderia compilar, regularmente, as informações que estas pessoas precisam saber, com maior precisão e maior credibilidade.
Além disso servirá também como um “guia” para que os recém-formados ou desempregados possam se manter atualizados sobre as oportunidades de trabalho; e como estímulo para que os estudantes conheçam um pouco mais sobre a área que mais tem contratado jornalistas, sem ficar restritos aos veículos de comunicação de massa existentes na capital.

Nenhum comentário: